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No dia 8 de fevereiro de 2016, um grupo de pessoas com a liderança de Indianara Siqueira lançou uma campanha difamatória de escracho virtual e boicote chamada “Sangue nas Nuvens” que incluiu vários videos, posts e memes. Para isso usou várias paginas de fbk, incluindo a página da Nuvem à qual, como associada, tinha acceso.  A campanha transmitia que uma terrível transfobia tinha acontecido na Casa Nuvem: uma mulher trans teria sofrido uma agressão que fez ela sangrar e, "enquanto a mulher sangrava,as pessoas só se preocuparam em seguir a festa". A campanha denunciava que em um dos principais espaços LGBTI da cidade, "A purpurina tinha virado sangue" e, ao consumir no bar da Casa Nuvem durante o Carnaval, o pessoal estaría sendo "conivente com transfobia, homofobia, racismo, machismo e misóginia, além do silenciamento das vítimas".

O ataque não veio de surpresa, a casa Nuvem estava sendo alvo de um processo de assédio moral desde dois meses atras que incluiram diversos mensagens acusatórios nas redes e nos canais internos da Casa Nuvem, estes são alguns deles:

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(Nota sobre a mensagem 1. A Casa Nuvem, nos seus quatro anos de existência, só se apresentou a um edital, e foi em 2013. Foi o edital para Pontos de Cultura Municipais).

 

A virulência do ataque durante o Carnaval comprovou o que muitas de nós estávamos percebendo desde inicios do ano: que a nossa casa já havia sido ocupada conosco dentro e que não tínhamos capacidade de reagir como coletivo ao assédio e linchamento virtual. Além do mais existia o medo de que outras agressões físicas se produzissem e a Casa Nuvem dependia do sucesso do bar para se manter financeiramente. Quem iria gerir as próximas festas sob ameaça de boicote, escrachos e outras provocações? Que outras armações ocorreriam nas nossas festas?

O que foi contado?

"Sabemos que os Nuvens foram postos pra correr de lá depois do descaso transfóbico a uma pessoa trans em suas festas. Papo de agressão física, teve sangue no chão e os Nuvens optaram por seguir o baile (...)”. (trecho de post de um posto publicado em setembro de 2016).

O que aconteceu?

Uma festa cheia de militância LGBTQ onde o maior perigo que haveria perante uma agressão era o agressor ser linchado. 

Duas mulheres trans chegam na Casa Nuvem curtir a festa. Na entrada da festa, um homem desconhecido faz um comentário transfobico. Uma das mulheres responde com um soco. O cara revida. Outra mulher trans quebra uma garrafa, depois quebra outra garrafa; com a segunda garrafa corta-se um dedo para começar a sangrar. Parte acima do cara que esta tentando fugir da casa. Fere as costas do cara com a garrafa quebrada. Pessoas da Nuvem levam a mulher com o dedo cortado pro primeiro andar e tentam durante 20 minutos tampar a ferida. A mulher que é auto-declarada HIV positiva, não deixa que as pessoas tampem a ferida e fica esfregando a sangue por "tudo quanto é lado" durante alguns minutos. Depois aceita que pessoas da casa nuvem levem ela á Upa. Depois volta à festa. Outras pessoas da Nuvem foram cuidar do homem que foi ferido nas costas com o intuito de levar ele ao hospital. Isso não foi possível por ele foi embora. 

Uma das pessoas que estava presente conta os detalhes neste trecho de uma entrevista realizada para uma dissertação de mestrado:

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No dia 15 de abril de 2019 recebemos o relatório da Comissão de Ética do PSOL que recomendava a expulsão de Indianare Siqueira do partido. Nesse relatório conseguimos ter accesso, PELA PRIMERA VEZ,  aos detalhes do evento que serviu para enquadrar a acusação de transfobia que foi usada para justificar a invasão de nossa casa:

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Todas as pessoas da Nuvem ficaram chocadas e paralizadas com o nivel de truculência e, sobre tudo, com o nível de teatralidade e manipulação dos fatos. Foi convocada uma assembleia. A maioria das pessoas falaram que havia que resistir, que a Nuvem não podia acabar assim, mas ninguém parecia estar com as forças como para assumir o protagonismo da gestão num ambiente tão hostil.   Quem de nós iria gerir as próximas festas sob ameaça de boicote, escrachos e provocações? Que outras violências mais ou menos “espontâneas” aconteceriam? Como seriam relatadas nas redes? Como iríamos reagir? Como seria usada a nossa reação? Em seu relato, Indianara acusa o povo da Casa Nuvem de transfobia por não tê-la convidado para participar dessa assembleia.

 

Nos dias que se seguiram, o grupo de Indianara publicou dezenas de posts com centenas de comentários que com grande dramatismo acusavam a nuvem de transfobia e “lembravam” casos de outras agressões ocorridas em seu espaço. Algumas pessoas tentaram se defender, mas logo ficou claro que qualquer reação nossa era traduzida nas redes como maius uma transfobia. O horror aumentou quando vimos que algumas das pessoas mais ativas e agressivas na campanha de difamação contra nuvem eram pessoas próximas que usaram intensamente a casa para seus projetos e momentos de socialização, ativismo e diversão.  

Dois dias depois do lançamento desta campanha, o pessoal da Nuvem decidiu fechar e assumir as perdas económicas pelo fechamento do bar no meio do Carnaval.

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